Roteiro Homilético – III Domingo da Páscoa – Ano B
17/04/2015 11:03
Jesus aparece aos discípulos - Lc 24, 35-48
Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir o pão. Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!”.
Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um espírito. Mas ele disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”.
E dizendo isso, ele mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas eles ainda não podiam acreditar, tanta era sua alegria e sua surpresa. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?”. Deram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele o tomou e comeu diante deles. Depois disse-lhes: “São estas as coisas que eu vos falei quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.
Então ele abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, e disse-lhes: “Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome será anunciada a conversão, para o perdão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas destas coisas”.
Comentários
01.O Ressuscitado convida a reler a história à luz do evento pascal
O evangelho de hoje é a sequência do relato dos discípulos de Emaús. Trata-se, ainda, da manifestação de Jesus ressuscitado aos apóstolos, reunidos no Cenáculo. A comunicação espiritual da experiência do Ressuscitado é ocasião em que o próprio Senhor se faz presente. Mas sua presença não é evidente a todos nem nas mesmas circunstâncias. A presença do Ressuscitado não é desvario ou ilusão; ela é real. Ele não é um fantasma; ele tem um corpo. Jesus sabe que os apóstolos estão assustados e que eles têm dificuldade em aceitar essa nova realidade de sua presença. Os apóstolos têm dificuldade de compreender o que é realmente a ressurreição. Eles têm dúvida. Por isso, Jesus ressuscitado convida a olhar as suas mãos e os seus pés e a tocá-lo. Ele é um homem com um corpo e uma alma. Mas o seu corpo de ressuscitado é bem diferente do corpo que tinha quando de sua existência terrestre. Do ponto de vista bíblico, o corpo é um instrumento que Deus colocou à nossa disposição para que possamos viver a nossa vida em plenitude. A experiência que faz sentir uma alegria que perdura para além de um momento aprazível é o modo de conhecer que o Senhor está presente. Nosso texto de hoje afirma uma identidade diferenciada: o Crucificado é o Ressuscitado. Essa é a mensagem contida no convite a olhar as mãos e os pés que trazem a marca da paixão. Embora o seu corpo traga as marcas de sua paixão, trata-se de um corpo glorioso para o qual não há lugar nem situação onde ele não possa estar. É um modo de presença que ultrapassa os limites do visível e do imediatamente perceptível. Ele exige fé. A vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo são indissociáveis. A presença de Jesus ressuscitado ilumina a memória e convida a reler a história à luz do evento pascal. A manifestação de Jesus ressuscitado aos apóstolos, no cenáculo, os abre para o futuro. Quando da sua existência terrestre e finita, a missão de Jesus se limitava às ovelhas perdidas da casa de Israel. Após sua paixão e ressurreição, a missão dos apóstolos se estende para o mundo inteiro. A liturgia deste dia nos convida a aprofundar nosso engajamento e nossa adesão a Cristo ressuscitado e nossa disposição em realizar a sua vontade salvífica. Pe. Carlos Alberto Contieri
02.Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo!
Hoje, o Evangelho ainda nos situa no domingo da ressurreição, quando os dois de Emaús regressam a Jerusalém e, ai enquanto uns e outros contam que o Senhor se lhes apareceu, o mesmo Ressuscitado se lhes apresenta. Mas sua presença é desconcertante. Por um lado provoca espanto, até o ponto que eles «Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um espírito» (Lc 24,37) e, por outro, seu corpo traspassado por cravos, a lançada é um testemunho eloquente de que é o mesmo Jesus, o crucificado: «Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho»(Lc 24,39).
«Faz brilhar sobre nós a luz do teu rosto, Senhor», canto o salmo da liturgia de hoje. Efetivamente, Jesus, «Então ele abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras» (Lc 24,45). É todo urgente. É necessário que os discípulos tenham uma precisa e profunda compreensão das Escrituras, já que, como disse São Jerônimo, «ignorar as Escrituras é ignorar Cristo».
Mas esta compreensão da palavra de Deus não é um fato que se possa administrar privadamente, ou com sua congregação de amigos e conhecidos. O Senhor desvelou o sentido das Escrituras à Igreja naquela comunidade pascal, presidida por Pedro e os outros Apóstolos, os quais receberam o encargo do Mestre de que «e no seu nome para o perdão dos pecados, a todas as nações, começando por Jerusalém» (Lc 24,47).
Para serem testemunhas, por tanto, do autêntico Cristo, é urgente que os discípulos aprendam —em primeiro lugar— a reconhecer seu Corpo marcado pela paixão. Precisamente, um autor antigo nos faz a seguinte recomendação: «Todo aquele que sabe que a Pascoa foi sacrificada para ele, entende que sua vida começa quando Cristo morre para nos salvar». Além do mais, o apóstolo tem que compreender inteligentemente as Escrituras, lidas à luz do Espírito da verdade derramado sobre a Igreja. Comentário: Rev. D. Jaume GONZÁLEZ i Padrós (Barcelona, Espanha)
03.A Paz esteja convosco.
A centralidade do Mistério Pascal de Jesus Cristo exige de cada cristão, de forma responsável e dinâmica, um amadurecimento pessoal e comunitário deste imprescindível acontecimento de salvação.
É na morte e ressurreição de Cristo que Deus nos fala de uma forma bela, amorosa, e responde às questões mais pertinentes do Homem e de Deus.
Na primeira leitura, são Pedro, revela esse acontecimento central. Ele possui uma história de fragilidade e pecado, mas possui também uma experiência forte de acolhimento, de amor. O encontro com o Ressuscitado leva-o a proclamar e a testemunhar as maravilhas da misericórdia de Cristo ressuscitado. Recordemos que depois de ressuscitado, Cristo, tem um dos mais belos diálogos de amor, de vocação e chamamento a Pedro. O diálogo termina com: «segue-me».
Pedro oferece-nos o seu testemunho para que também nós, na nossa fragilidade, possamos ser tocadas pela presença de Cristo ressuscitado e sentir a necessidade de amar. Amar somente e para sempre. E nesse amor descobrir a vocação, o chamamento e o compromisso do anúncio.
A experiência de João é também uma experiência de paz que dimana d’Aquele que é superior ao pecado e que intercede por nós. João, na sua fragilidade, também tocou esse amor e por isso nos pede que o guardemos como fonte permanente de conversão e de santidade.
A experiência do perdão do pecado leva-nos a tocarmos o mais profundo do amor de Deus, que tendo descido à nossa miséria nos introduz na santidade e beleza da Sua vida.
Ainda hoje, no sacramento da reconciliação eu toco o amor de Deus. Este sacramento, sinal da presença do ressuscitado, que me faz surgir homem novo, que reconstrói a minha vida é também dinamismo de confirmação da minha vocação e envio como testemunha da Sua pessoa e missão. E sobretudo o Sacramento da Eucaristia, a exemplo dos discípulos de Emaús: O reconhecem, se enchem de alegria e entusiasmo e O anunciam.
04.Mostrou-lhes as mãos e os pés.
Sentimos muitas vezes necessidade de mostrar os nossos «galões», os nossos títulos, o nosso recheado curriculum, Mas temos receio de nos mostrar a nós próprios. Temos medo de mostrar a nossa fragilidade. Às vezes a santidade não é realidade porque não lemos os sinais da nossa fragilidade no encontro com o Amor, Jesus Cristo.
Cristo mostrou as mãos e os pés. Eles eram o sinal do seu amor, da sua doação e entrega, o sinal da cruz. Mostrou-se naqueles sinais transformados pelo amor mas que foram infligidos com força de ódio, de violência, de tentativa de destruição do próprio Deus feito Homem. Esses sinais são sinais de liberdade: «ninguém me tira a vida eu é que a dou».
Mas este gesto de Lucas é a proclamação da fé em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem: em tudo semelhante a nós. Não é fruto da nossa imaginação! É Ele mesmo, diferente, ressuscitado, mas Deus e Homem, uma só pessoa e duas naturezas. É Jesus Cristo em verdadeira comunhão com os seus discípulos, com a comunidade humana.
Todos somos convidados a vê-Lo, a tocá-Lo com o profundo olhar da fé que na leva a amar de forma intensa e a comprometer a vida com o seu projecto. Tocaremos e veremos o Senhor Ressuscitado em muitos sinais da sua presença, o mais forte e máximo é a Eucaristia, e depois o irmão, e sobretudo o no mais frágil, os pequeninos, os doentes…
Na realidade é preciso vê-Lo e tocá-Lo.
05.Vós sois testemunhas de todas estas coisas.
A Igreja vive do seu Senhor Ressuscitado. A experiência com Cristo Ressuscitado compromete o cristão, os seus discípulos: no anuncio, no testemunho, no envio, no compromisso com o seu projecto.
Testemunhas pela vida, pela palavra, pelas opções, pelo compromisso com as pessoas, com a Igreja, com a comunidade.
O dinamismo do mistério pascal de Cristo é uma constante até ao seu ponto final. Também em minha vida, na relação com Cristo vivo e ressuscitado, surge em mim, apesar da fragilidade, a novidade e a vitória do mistério pascal do Senhor. E também no mundo, embora este possa acentuar sinais contrários. É imparável a vitória do amor e da vida: Cristo ressuscitado.
A liturgia da celebração deste domingo é um convite à disponibilidade da conversão que dimana do encontro com Cristo ressuscitado. Convite a um compromisso que nos torna suas testemunhas.
Para o cristão, o discípulo que encontrou Jesus Cristo, já não há lugar ao temor, ao medo, à paralisia egoísta, ao calculismo, à corrida aos primeiros lugares, à deturpação da verdadeira imagem de Deus.
É também um convite a amarmos profundamente a Igreja. É nela, comunidade dos crentes, a fazermos a experiência de Cristo ressuscitado e empenharmo-nos com sabedoria e esforço no Seu anúncio.
Maria Santíssima caminha com Igreja de Jesus, comunidade dos seus discípulos, e nos continua a dizer: «Fazei tudo o que Ele vos disser».
Oração - Ó Divino Espírito, ensina-me tudo quanto Jesus ensinou. Dá-me inteligência para entender; memória para lembrar; vontade dócil para praticar; coração generoso para corresponder aos teus convites.
Leitura - At 3, 13-15.17-19; 1Jo 2, 1-5a
Salmo - Levanta sobre nós, Senhor, a luz da tua face. Sl 4
FONTE DE PESQUISA: PORTAL PAULINAS; PRESBITEROS.COM; EVANGELI.NET